terça-feira, abril 29, 2008

Suporte Avançado de Vida

Clínicos aplaudem medida mas apontam dúvidas

Ordem quer médicos aptos em suporte avançado de vida

A Ordem dos Médicos (OM) decidiu, na reunião do Conselho Nacional Executivo (CNE) do passado dia 1 de Abril, que todos os internos do ano comum devem fazer, já a partir do próximo ano, um curso de suporte avançado de vida (SAV), passando este a constituir um «requisito de formação». A obrigação estende-se ainda a «todos médicos que trabalham em ambiente de Urgência», os quais devem fazer o curso ou respectivas actualizações «nos próximos três anos», explicou o bastonário da OM, Pedro Nunes, ao «Tempo Medicina». Enquanto a proposta relativa aos internos deverá ser apresentada ao Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI) da OM para ser posta em prática, a outra seguiu já para a ministra da Saúde, Ana Jorge. Segundo Pedro Nunes, «é necessário que haja médicos em todo o País com esta formação», até porque a Ordem detectou que «o ensino actual é pouco eficaz nesta área». Contactado pelo «TM», Vítor Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Medicina de Emergência (APME), apoia a decisão da Ordem, até porque vai ao encontro das pretensões da própria APME. Na sua opinião, «é difícil entender que existam ainda médicos na Urgência que não tenham o curso de SAV», pelo que defende que «qualquer médico, ao acabar o curso, deverá ter esta formação». O especialista sublinha ainda que «devíamos ir mais além», tornando obrigatório «a todos os internos de todas as especialidades» não só o curso de SAV, mas também o de suporte avançado em trauma e o de suporte avançado em trauma pré-hospitalar. Vítor Almeida critica a «visão muito mercantilista da Medicina» actualmente dominante, defendendo que «é preciso que o Estado e os gestores compreendam que a formação é sempre um bom investimento». Formação em reanimação, sim Também Nelson Pereira, ex-director clínico do INEM, considera «positiva» a medida, porque «relativamente à situação actual é uma mais-valia». Todavia, embora concorde com a obrigatoriedade de todos os médicos que trabalham em serviços de Urgência, consultas abertas ou serviços de atendimento permanente terem de fazer o curso de SAV, já a outra proposta suscita-lhe algumas «precauções». De acordo com o médico, esta é uma formação «dirigida ao team leader de reanimação», pelo que apenas os internos de algumas especialidades deverão fazê-la, dando como exemplo a Anestesiologia ou a Medicina Interna. Já a «formação em reanimação deveria ser destinada a todas as especialidades», entende Nelson Pereira, para quem a aquisição de competências na área da reanimação poderia até ser «adequada à especialidade de cada interno». E isto porque «mais importante do que o curso, é a forma como nos organizamos em termos estratégicos, para que a resposta do sistema de Saúde seja adequada à minha capacidade de intervenção e à minha tarefa enquanto prestador deste serviço». O especialista alerta ainda para o problema da «formação pela formação», que poderá «tornar-se mais um negócio do que propriamente uma estratégia organizativa dos serviços». Quem também espera que esta medida «não sirva determinados possíveis interesses» é Rui Guimarães, presidente do CNMI. Nas suas palavras, é necessário «acautelar» o aspecto económico, porque estão em causa «cursos muito intensivos e com custos que não são desprezíveis». Por isso, há que evitar o «perigo» de «forçar o interno a pagar o curso». A necessidade de «recertificação» foi outro dos aspectos para os quais chamou a atenção, aproveitando ainda para lançar a dúvida sobre «o que acontece ao médico [já em pleno exercício] que faz este curso e não é aprovado». Formação já é realidade Segundo Rui Guimarães, «é necessário que haja alguma coerência», já que «quando se fazem cursos destes há uma taxa significativa de insucessos». Com efeito, se é verdade que o interno tem várias oportunidades, ao longo da sua formação, de obter aprovação no curso de SAV, o mesmo poderá não acontecer com o médico que já está a exercer. Por outro lado, de acordo com o responsável do CNMI, «esta prática vai agora ser oficializada, mas já é obrigatória em muitos locais de formação». «Têm sido várias as faculdades que têm optado, ainda na parte pré-graduada, pela introdução de alguma formação nesta área», contudo, «o SAV é apenas indicado para médicos e não para estudantes», salientou. Ainda assim, o clínico considera que esta «é uma mudança muito grande no paradigma da formação, porque refere-se a conhecimentos que estão vertidos em cursos que estão testados com base em evidências, havendo prova de grandes benefícios para o doente». Também Vítor Almeida refere que «há hospitais que dão formação em SAV nos seus internatos», havendo ainda especialidades, como a Anestesiologia, em que tal faz parte do currículo. «Mas não é transversal a todas as especialidades», adverte. A.V. ...CAIXA... Quem ministra o curso? Apesar de Pedro Nunes ter avançado que caberia aos hospitais onde os jovens médicos fazem o ano comum ministrar o curso de SAV, Vítor Almeida entende que tal «não é obrigatório». «Pode ser feito em agrupamentos», respondeu. «Se o hospital dá, que é o que deve fazer, óptimo. Caso contrário, pode organizar-se através de uma sub-região de saúde, através de agrupamentos de hospitais ou de centros de saúde. Até a própria OM pode promover esta formação», argumentou. Em relação ao pagamento do curso, o presidente da APME defendeu que «os hospitais devem suportar os custos globalmente». Mas aquilo que para o especialista é «imperdoável» é que se «continue a contratar médicos para as urgências hospitalares ou para centros de saúde que se confrontam com situações de emergência sem terem a mínima preparação em SAV». Também para Nelson Pereira, «o grande problema em Portugal é que temos hoje muitas pessoas a trabalhar nas Urgências que não têm essa competência». Contudo, tal acontece «porque a disciplina é relativamente recente». Por isso mesmo, considera a proposta da Ordem de impor a formação a todos os médicos que trabalham em ambiente de Urgência «muito mais interessante do ponto de vista do impacte na qualidade do serviço». Por esse mesmo motivo, Nelson Pereira defende também a criação da especialidade de Medicina de Urgência (ver «TM» de 10-3). TEMPO MEDICINA 1.º CADERNO de 2008.04.07 0812861C02108ABV14C


Fonte: http://www.tempomedicina.com/Arquiv.aspx?Search=suporte+vida

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